Então você, assim como eu, veio atrás dos fatos! Onde fica Pervinca? De onde surgiu? Quando e por quê? Bem, sinto dizer que não há fatos por aqui, apenas histórias que alguém ouviu de alguma tal fonte nada fidedigna ou algum autor que escreveu um livro bem grosso cheio de datas e nomes, só para mais tarde um vizinho revelar que o tal escritor não era de confiança e o livro era fruto de suas amarguras com a torre de um feiticeiro que tampava a bela vista e desvalorizava os imoveis da rua. Mas ninguém sairá daqui de mãos abanando, então vou deixar alguns pedaços das minhas explicações favoritas sobre a pequena cidade.

Se você for ao antiquário da cidade, As Estranhezas da Dona Olívia, e consultar um certo livro de um certo Pelinore Devoluto, lerá o seguinte:

"Há muito tempo, nos primórdios de Pervinca, havia uma alta e mal acabada torre. Construída sem as necessárias licenças dos devidos departamentos da prefeitura, a torre já nasceu velha, feia e úmida. Possuía apenas uma entrada, que ficava escondida entre suas pedras verdolengas de ardósia. A torre, como se pode imaginar, também não tinha aprovação de departamento de bombeiros da cidade."

Sim, Pelinore era o pobre vizinho amargurado. Mas, se pedir ao fantasma do livro que te conte a história, talvez tenhamos um pouco mais de imparcialidade:

"Era uma vez uma distante e bela cidadezinha à beira do rio chamada Pervinca. Não se sabe exatamente quem a fundou. Conta-se na cidade vizinha, a terrível Alberta, que numa manhã as pessoas na fronteira acordaram e descobriram que ao lado agora existia uma floresta misteriosa, um rio que ninguém sabia de onde vinha e uma cidade pavorosa cheia de gente pavorosa. Sabemos, porém, que albertianos são notórios mentirosos e invejosos: Pervinca era esplendorosa desde o princípio."

Ou talvez não. Mas nem tudo está perdido, porque tenho uma fonte na prefeitura que me contou um pouco da cerimônia de inauguração de Pervinca:

"Eleição atrás de eleição, todos os prefeitos são tolos! Desde o princípio, o que me leva a crer que seja requisito obrigatório. Antes do primeiro prédio da prefeitura e do primeiro aparvalhado, Pervinca já existia e já tinha rio e floresta e tudo mais, mas quem veio primeiro foram duas irmãs Abigail e Karina. De onde vieram não vem ao caso e de Karina não sei grandes coisas, mas Abigail era uma velhota de ideias excêntricas e criou a floresta, as criaturas, o rio e Pervinca. E tempos depois veio um prefeito e decidiu inaugurar a cidade! Inaugurar o que? A cidade já era velha!

Mas aprontou a tal cerimônia, colocou um palanque com uma banda barulhenta, estendeu uma grande faixa vermelha com Pervinca escrito em dourado e toda essa presepada e no momento em que ia cortar a faixa? Uma lebre cor de musgo abocanha o pano e sai correndo pela ponte em direção à floresta! O prefeito ficou lá, boquiaberto com a tesoura na mão. Foi uma grande vergonha para o homem, mas uma bela história pros moradores.

Então, o símbolo da cidade virou a lebre musguenta roubando a faixa e eu acho bastante poético de certo modo. Certamente diz alguma coisa sobre Pervinca.

E o evento teve o dedo de Abigail, acredito."

E foi isso o que me contou minha fonte, que é pessoa da mais alta confiança.

Além disso algumas características pervinquianas que notei são a excelente broa da padaria O Algodoeiro, tudo no antiquário é pelo menos moderadamente assombrado, as ruas são tortas e a numeração das casas não faz sentido, não se deve brincar de pique-esconde com salamandras porque elas mordem sua canela quando te acham, os cristais da loja do Seu Arthur são pura enganação, a torre do feiticeiro ainda está lá atrapalhando a vista e você pode comprar chá na locadora de vídeos, mas não é aconselhado.

texto escrito "A artista" em letra cursiva com 3 estrelas assimétricas decorando

Olá! Me chamo Loreny e sou artista têxtil, escritora e ilustradora. Sou formada em Design Gráfico, mas minha paixão sempre foi a criação de personagens e universos misturando fantasia e eventos do cotidiano. Sou mineira e moro em Frei Inocêncio, uma cidadezinha do interior. Mudar para cá foi o evento que ajudou a moldar Pervinca. Assim como ela, a cidade onde moro também segue uma lógica e ritmos próprios e é cheia de pessoas peculiares e "causos" curiosos. Tem até uma mata aqui por perto que se diz ser assombrada, mas prefiro não investigar.

Desde pequena estive rodeada por tecidos e arte. Minha vó era pintora e fazia colchas de patchwork. Aprendi meus primeiros pontos com ela. Hoje uso as técnicas que tive contato com minha avó, mais tudo o que aprendi ao longo desses quase dez anos como artista para dar vida aos moradores e criaturas de Pervinca e compartilhar suas histórias com outras pessoas que também gostariam de um cadiquinho de fantasia para imaginar e sonhar no meio do dia.

Você pode checar a loja para levar um pedacinho de Pervinca para casa e a página de contos para saber o que se passa na cidade.